Qual a definição de Mindfulness?
Responder a esta pergunta é um pouco como responder à pergunta: o que é Realidade Aumentada? Podemos investir tempo usando palavras para descrevendo tecnologias e procedimentos da RA. Mas, a melhor maneira de alguém saber o que é RA é experimentando a própria RA. Não é mesmo?
O mesmo se aplica à atenção plena (mindfulness). Se usarmos palavras para definir mindfulness, então estar mindful é estar consciente de nossa experiência, momento a momento, de uma forma bastante particular: intencionalmente, com curiosidade e não julgamento. Intenção também tem a ver com um propósito – ajudar-nos a sofrer menos, desfrutar de maior bem-estar, fazer melhores escolhas em nossas vidas e fornecer a base para uma vida gratificante e com significado. Por fim, mindfulness possui uma bússola ética, um conjunto de valores que nos ajudam a fazer escolhas e orientar nosso aprendizado. Esta bússola ética e esse conjunto de valores moldam nossa consciência, nossas palavras e nossas ações.
Mindfulness é uma qualidade mental natural que todos nós temos; existem pessoas que talvez sejam mais naturalmente mindful do que outras. Mas mindfulness também é algo que podemos desenvolver e aprender. As habilidades de mindfulness precisam ser aprendidas e praticadas, começando com pequenos passos, progredindo para usá-los em situações cada vez mais desafiadoras conforme nossa habilidade e confiança aumentam. Com o tempo, eles se tornam parte de nós, de como pensamos, falamos e agimos. Por serem habilidades fundamentais, podem ser usadas ao longo de nossas vidas e até mesmo nas situações mais desafiadoras.
E, como desenvolvemos mindfulness?
Essa qualidade mental pode ser cultivada por meio da prática de mindfulness. Uma pergunta frequente é: “Qual é a diferença entre mindfulness e meditação?” A meditação é uma das inúmeras formas de desenvolver e cultivar a habilidade mindfulness. Por ser uma técnica cognitiva com evidências científicas, em vez da palavra meditação – que pode ter conotações religiosas – preferimos usar o termo “prática de mindfulness”.
Quais tipos de prática de mindfulness existem?
Existem muitas práticas diferentes de mindfulness, cada uma com um propósito e uma forma específicos. Algumas estabilizam nossa atenção, algumas desenvolvem atitudes como curiosidade e abertura, algumas ajudam a perceber padrões de comportamento e pensamento, e assim por diante. Na maioria das vezes, as pessoas pensam em práticas de mindfulness em termos de práticas formais (aquele estereótipo de prática sentada de pernas cruzadas, ou concentrando-se em algo como nossa respiração, por exemplo…). Mas, há outro conjunto igualmente importante de práticas de mindfulness que integramos em nosso dia a dia (chamadas de práticas informais), que não envolve parar ou sentar-se. Ao contrário, envolve nos relacionarmos com a vida cotidiana de uma maneira diferente – com curiosidade, cuidado e consciência do momento presente.
O treinamento de mindfulness é um pouco como o exercício físico. O exercício físico pode melhorar nossa força, flexibilidade e aptidão cardiovascular. Diferentes programas de treino físico são usados para esses diferentes resultados. Por exemplo: treinamento de resistência é indicado para força, yoga para flexibilidade, e exercícios que aumentam a frequência cardíaca para condicionamento cardiovascular. O treinamento é ajustado para resultados diferentes; você pode estar treinando para correr 5 km ou uma maratona inteira, por exemplo. Não corresponder o treinamento ao ponto em que estamos pode ser perigoso; por exemplo, ir de zero exercício para muito exercício pode levar a lesões ou algo pior.
A prática de mindfulness tem muitos paralelos com o exercício físico. Diferentes práticas de mindfulness produzem efeitos diferentes; o treinamento precisa ser ajustado; o que funciona para uma pessoa não funciona para outra. A mente é complexa e sensível. A prática de mindfulness precisa primeiro não causar danos. Em tempos de muitas mudanças ou adversidades, pode ser útil proteger a mente virando-se ou mantendo-se ocupada. Outras vezes, a mesma estratégia pode piorar as coisas. Mas, com o tempo, podemos aprender quando cada estratégia funciona melhor, quando é melhor nos voltarmos para algo e quando é melhor nos afastarmos de algo. Algumas práticas de mindfulness têm durações diferentes. No fundo, cada prática tem a mesma intenção; mas um pouco como a força física e os exercícios na academia, as versões mais longas podem fortalecer mais os “músculos” de mindfulness. Mas, também como o exercício físico, é melhor fazer o que é realista e factível, é por isso que oferecemos práticas de diferentes durações.
Mas, diferentemente do exercício físico, o ganho do aprendizado em mindfulness não pode ser desfeito!
Se pararmos de nos exercitar, tendemos a perder os ganhos físicos. Já aprender, por meio da prática de mindfulness, a nos relacionarmos de maneira diferente com nosso corpo e nossa mente é uma lição que não pode ser revertida. Podemos esquecer de praticar, ou ser apanhados novamente em velhos hábitos, ou descobrir que nossa atenção se torna mais facilmente dispersa, mas essa capacidade de trazer consciência para nossa experiência e de nos relacionarmos com ela de uma maneira diferente sempre estará lá, disponível. Sempre saberemos que podemos dar um passo atrás, para fora do cenário caótico do dia a dia, do piloto automático e da dissociação, e que a capacidade de nos aterrarmos, de nos estabilizarmos e de trazermos consciência para o momento presente está sempre lá.
- Adaptado de Oxford Mindfulness Centre